PALAVRAS: LARANJA, OUTONO, NEVOEIRO e XAILE.


Desafio Poético | Texto em prosa ou poesia com as palavras: 
LARANJA, OUTONO, NEVOEIRO e XAILE


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MEU GOMO DE LARANJA AMARGA


És meu gomo de LARANJA amarga
Suculenta, mas de travo que me alarga
A desdita que me serve como carga
Que carrego sem ter tempo de descarga

São as marcas dolorosas do OUTONO
Que me trazem desprazeres no meu sono
Pesadelos são castelos sem ter dono
Onde guardo as aventuras sem suborno

Navego como aquele que não voltou
Do denso NEVOEIRO que tantos dias nos marcou
Que tantas horas pensamento assinalou
Sem espadas, cavalos, setas nos assinalou

E na espera o tempo esse vagabundo
Sem XAILE soprou levando tanto mundo
Nas cordas com que me agarro e não me afundo
Alerta estou caminhando aonde sou oriundo.

© ARIEH NATSAC

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 XAILE OUTONAL


As folhas a descaírem das árvores
É sinal dum outono a chegar,
Época de colher frutos e cores
Olhando o céu que nos quer acenar!

O estio tem os dias contados
Na lenda do luar dum agosto
De laranja-da-baía pelos prados
E nós a vindimar maçãs do rosto!

Num cinza-nevoeiro, que não chove
Nem choverá se nós não cantarmos
De guitarra na mão fado que trove!

E no xaile outonal bailarmos
Ao sabor do vento o que renove
A estação, como é bom sonharmos!

© Ró Mar 

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TASCAS


Paramos aqui para beber café,
Bolo de laranja e capilé?

- Eu, nesta tasca rasca;
Uma senhora? -Tem dó.
Antes queria ser pó!

Pois é...

Sabes onde aprenderam os poetas?
Nas tascas!
Onde se escreveu livros? - Nessas, que são rascas!

Onde se encontravam os artistas?
- Nessas mesmas pistas!
Onde paravam os intelectuais
Que liam jornais?
- Nas tabernas!

"Modernas notícias
Por tantos jornalistas!
Outonos chegados
Dos dias passados!"

- E o fado?
"Coitado - (pior que nevoeiro cerrado)",
- Nas tabernas bairristas,
Acompanhado com chouriço e guitarristas!

"Fazem-se canções por uns tostões.
-Vendem-se se na hora!
Havendo boas condições,
Há guitarra que chora!"

Xaile e cachené nessas mesmas mesas de café,
Lenço envolto ao pescoço;
- Saudades desse moço!

E se houver dinheiro,
Canta o Marceneiro!

© RAADOMINGOS 

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LARANJA


Ofereci-te LARANJA p’ra comeres
Do meu quintal com toda a convicção
Descasquei-ta sem pressa para veres
Não se deve atirar cascas p’ro chão

Sujariam ficando ao abandono
Pois já bastam as folhas caídas
Caducas e deixadas no OUTONO
Em horas mais sombrias e vencidas

Cada gomo comido tem sabor
Amor do tempo sem ter NEVOEIRO
Parece mais o sol que vem trazer

Lindo XAILE mais quente outro calor
Com suas vitaminas, prazenteiro
Deixando a melanina ou C p'ra ter.

© ARIEH NATSAC

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LEMBRO O ESVERDEADO LARANJA E MAIS


O outono é estação linda demais
Para ser vivida à porta fechada!
Lembro o esverdeado laranja e mais
A trepar p´lo alpendre à desgarrada

E também o vento sumarento
Qu´ ousava despentear o meu cabelo,
Sempre despontando outro momento.
Tempo de deambular o olhar singelo

E de prender o salto na calçada!
O dia a cintilar nas franjas do xaile
A esvoaçar, época temperada!

Manhãs de sol e à noite havia baile,
Gente refrescando p´la esplanada,
Que hoje é nevoeiro e nem braille!

© Ró Mar 

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Sonetos Do Universo | 2020