"ISTO"
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
© Fernando Pessoa
*
I
Observo o meu universo
Tal e qual como o sinto
E quanto ao que é disperso
Comtemplo-o por instinto,
"Dizem que finjo ou minto."
Se o vejo nem penso,
Crio o que vem à mão
E tudo compenso
Como uma aparição;
"Tudo que escrevo. Não."
Somente o relevante.
Esquiço o que pressinto,
Caligrafia distante
Num momento constante,
"Eu simplesmente sinto."
Arrimo e cultivo
Signos de compreensão
De teor relativo
E rimo o coração
"Com a imaginação."
Medito o que escrevo!?
Faço-o por devoção
Antiquado ou coevo!?
Quanto à tradição
"Não uso o coração."
© Ró Mar
***
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
"Essa coisa é que é linda."
© Fernando Pessoa
*
II
Tudo revivo e conto
Em letras onde espaço
A saudade que apronto
Nalgum desembaraço,
"Tudo o que sonho ou passo."
Concebo sem lamento
A minha leda lida
E sempre algo reinvento
Na travessia vivida,
"O que me falha ou finda."
A poesia para mim
É magia dum abraço,
Que brota no jardim
Marinho do espaço;
"É como que um terraço,"
Que presenteia luar
Numa viagem linda;
Tempo de desanuviar
E me sentir bem-vinda
"Sobre outra coisa ainda."
Momentos de esperança
Que dão certa vida, ainda
Sorrir como criança
Num colo de amor, inda...
"Essa coisa é que é linda!"
© Ró Mar
***
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
"Sentir? Sinta quem lê!"
© Fernando Pessoa
*
III
Isso que por aí falta
Influencia o seio
E desmesura a pauta
Regendo o recheio,
"Por isso escrevo em meio."
Com vontade de rever
Tudo o que fui até
Agora e reviver;
Ter o olor da maré,
"Do que não está ao pé."
Nada é impossível,
Pois, em tudo creio
Porque é atingível!
Por isso, passeio
"Livre do meu enleio."
Sonho de olhos abertos
Com o amor, Isso é que é!
O que nos traz libertos
E perto de Cairé,
"Sério do que não é."
Se escrevo poesia?
Não sei. Sou alguém que vê
E que com alma cria
Coisas. Arte ou cliché!?
"Sentir? Sinta quem lê!"
© Ró Mar | 01/ 2022